Confesso que tinha expectativas. Não sou fã, mas um admirador de Alien e Aliens, o Resgate (enquanto escrevo, uma bela miniatura do monstro de Giger me sorri topo do computador). Assim, fomos, minha amada e eu, à única sala de cinema no Recife em que se exibia o filme legendado e em 2D.
Atenção: este artigo revela elementos de Prometheus cujo conhecimento prévio pode arruinar a diversão de quem ainda não assistiu ao filme.
"Você seria o melhor para dirigir esse filme", teria
dito Kubrick a Spielberg em relação a A.I. - Inteligência
Artificial, seu projeto não concluído por quase trinta anos. À
época do lançamento da versão do diretor de E.T., Jurassic
Park e A Lista de Schindler, essa afirmação pode ter
servido de consolo e justificativa aos fãs do recém-falecido
Kubrick, descontentes em ver uma obra à qual ele tanto havia se
dedicado ser adulterada para atender a pressões mercadológicas.
Afirmava-se então que, devido a sua tendência ao cinismo,
evidente em sua filmografia, Kubrick temia que seu filme não fosse
visto e apreciado por um público maior, algo em que seu amigo
Spielberg havia claramente se sobressaído.
Se esse foi realmente o desejo de Kubrick, não sei. O que sei é
que admiro muito mais seu currículo que o de Spielberg, e que ao
terminar de ver A.I. no cinema, saí insatisfeito e órfão do
diretor de Barry Lindon. Com Prometheus tive a mesma sensação, de certa maneira invertida: enquanto A.I. ficaria melhor nas mãos de seu idealizador, a obra de Scott se beneficiaria da perspectiva de um Nolan ou um del Toro.
Como foi dito por Pablo Villaça, trata-se
de um filme mediano que poderia ter sido excelente (e para aspectos
técnicos e uma crítica profissional do filme, remeto-vos ao texto
do próprio).
Com uma premissa inspirada na
obra Eram os deuses astronautas?,
do suíço Erich von Däniken, o filme narra a história de uma
missão rumo a coordenadas astronômicas fornecidas por vestígios
de várias civilizações antigas, indicativos da origem
extraterrestre da humanidade. Financiada pela trilionária Weyland
Corporation, a expedição conta com poucos personagens relevantes
para a trama. A propósito, se quiser ter uma ideia geral do roteiro do filme, basta assistir a algum dos seus trailers.
O filme é visualmente
impressionante, sem transparecer artificialidade em momento algum. Os
cenários são bem elaborados e comedidos, sem espalhafato ou
futurismo excessivo. Destaque especial para os nossos Engenheiros,
gigantes de mármore com feições semelhantes às das antigas
esculturas clássicas e renascentistas (remetem também ao clipe
Schism, de Tool). O
problema maior reside, aqui e ali, em certas falas e fatos. Vejamos alguns.
Em primeiro lugar, não é explicado em nenhum momento como o casal de cientistas chegou à conclusão de
que a humanidade não apenas descendia, mas fora deliberadamente
criada pelas tais criaturas, clarividentemente batizadas de
“Engenheiros”. Entre as parcas evidências disponíveis e as conclusões delas extraídas existe um abismo que só se atravessa com uma explicação convincente ou desprezo à verossimilhança.
Algumas passagens e personagens merecem destaque.
Por mais que eu entenda que haja pessoas as mais diversas no mundo, nada justifica a imbecilidade da dupla formada pelo geólogo histérico e o biólogo idiota. Acredito que uma empreitada tão dispendiosa e arriscada deveria ser um pouco mais exigente na seleção do integrantes da tripulação. Das duas, uma: ou o roteiro quis deixar claro que o departamento de recursos humanos da Weyland Corp. precisa de uma “renovação”, ou alguém cedeu à tentação de infantilizar a plateia. Além disso, Ridley Scott deve ter assistido a algum episódio de Aventura Selvagem e concluído que, diante de uma cobra alienígena, Richard Rasmussen faria o mesmo que o biólogo em Prometheus.
Por mais que eu entenda que haja pessoas as mais diversas no mundo, nada justifica a imbecilidade da dupla formada pelo geólogo histérico e o biólogo idiota. Acredito que uma empreitada tão dispendiosa e arriscada deveria ser um pouco mais exigente na seleção do integrantes da tripulação. Das duas, uma: ou o roteiro quis deixar claro que o departamento de recursos humanos da Weyland Corp. precisa de uma “renovação”, ou alguém cedeu à tentação de infantilizar a plateia. Além disso, Ridley Scott deve ter assistido a algum episódio de Aventura Selvagem e concluído que, diante de uma cobra alienígena, Richard Rasmussen faria o mesmo que o biólogo em Prometheus.
Charlize Theron ganhou pelo menos
duas falas dignas de novela das seis. Primeiro, quando o androide David (Michael Fassbender) mais do que evidentemente desliga seu aparelho
de transmissão remota para que a patroa não o acompanhe desde a
nave, o prestativo roteiro nos auxilia a compreender o que se passa: “Você me cortou”, resmunga Theron. E depois, numa confrontação verbal com Weyland, ao terminar uma frase com o irônico e preguiçosamente
revelador vocativo “father”,
Theron reafirma o grau de sutileza e refinamento dos roteiristas.
Por fim, há uma cena com
a cientista Elizabeth (Lisbeth?) Shaw, vivida por Noomi Rapace, que peca por incoerente ou pelo menos decepcionante. Questionada por David (mesmo nome do pequeno robô
de A.I.) quanto à relevância de se conhecer as razões dos Engenheiros, a
personagem responde que ele não a entende por que não é humano. Tendo em vista a curiosidade (e a admiração) visível com que o androide busca as respostas ao longo da projeção, é de se admirar que surja afinal tão resignado. Talvez esteja confundindo sua programação com curiosidade, mas a impressão que fica é de um romantismo filantropo e cafona.
Há quem diga que
Prometheus tem o
defeito fundamental de propor questionamentos existenciais e
teológicos que ele ou não responde, ou o faz de maneira infantil.
Além de advogar que uma pergunta bem feita pode valer mais que muitas respostas, sou de uma tese diversa. O filme não almeja tanto discutir ou sugerir respostas para questões desse tipo, embora na entrevista abaixo o próprio
diretor demonstre uma preocupação com as religiões e os males delas
decorrentes. Me parece que o intuito foi mais causar assombro ou espanto, do que desenvolver uma tese sobre existência e religiosidade, talvez por conta da necessidade de conciliar as ideias com o lado pragmático de fazer dinheiro na indústria do cinema. Por isso acredito que se tivesse sido dirigido
por alguém como Christopher Nolan, na falta de um Kubrick ou do
próprio Ridley Scott de Alien
ou Blade Runner,
certamente estaríamos diante de uma obra mais sombria e apavorante, sem prejuízo de um conteúdo interessante.
Dito isto, não se pode negar que
o filme foi bem-sucedido em chamar atenção e despertar curiosidade.
Numa próxima postagem, devo escrever sobre as principais polêmicas e virtudes do filme.
Nenhum comentário:
Postar um comentário